E aí eu botei a cabeça para funcionar...
Como é que alguém que não nasceu na política ontem pode achar que o Presidente, ou o Senado, podem passar um projeto de lei com uma emenda que redefine o significado de royalty.
O negócio é que Ibsen Pinheiro é do PMDB. O Lula tem lá a candidata dele. Está tudo começando a andar antes das eleições, mas ainda não começaram as campanhas. A Dilma jura que não começou campanha e lá está o Lula andando com a Dilma para cima e para baixo. Por si só, Dilma não significa muita coisa - ela é a candidata da situação (que pra variar, desta vez é o PT).
Ora, democracia é uma coisa maravilhosa assim: se estão oito amigos na mesa do bar e resolve-se propor uma emenda ao "racha" na conta: o Zé Roela vai dar para todo mundo o dinheiro para cada um pagar sua parte da conta. Veja bem, ele não vai pagar sozinho, ele só vai distribuir o dinheiro para os amigos pagarem. O Zé não gosta, mas a emenda é posta em votação. Os amigos do Zé (e da onça) são sete, o Zé é um só. O Zé é voto vencido, não tem jeito. Venceu a maioria.
Ora, é o tipo de votação que a gente já sabe o resultado até mesmo antes de propor. O negócio é ter fé que os amigos da mesa são todos uns cretinos. Na mesa de bar é possível que isso não dê certo, mas na Câmara dos Deputados não há erro!
E o Lula viu esse troço chegando. O mensalão ele não viu, mas eu garanto que ele viu isso! Ele só foi para o Oriente Médio porque era um lugar mais seguro para ele do que Brasília. Aí ele chega pro coitado do líder do Senado, Romero Jucá, e fala:
"Companheiro, eu vou ali e já volto. Quando eu voltar quero ver tudo isso conciliado, falou? Tchau! Fui!"
Lula, com muita propriedade, já declarou que ano eleitoral não é hora de discutir distribuição dos royalties. Afinal, por que a urgência se o pré-sal só vai começar a dar dinheiro lá pra 2020?
Porque, supondo que essa lei passe, ele perde os votos de, pelo menos, 90% da região sudeste. Ele não, a Dilma. É muito voto. É o tipo de perda que só seria aceita por um candidato muito carismático. Não é o caso.
Aí ele veta o projeto de lei que, lá em 2009, foi proposta dele mesmo. Só que o Presidente visava ver a distribuição dos lucros da camada pré-sal recém descoberta e que vai dar muito dinheiro. Claro que Rio de Janeiro pulou, porque isso já feria a definição de royalties. Saiu matéria dizendo que "Lula cedeu à pressão de Estados produtores de petróleo".
Royalties não são imposto, são uma compensação pela trabalheira que dá ficar catando petróleo por aí, cuidando de manter a segurança dos empregados, cuidar dos riscos que uma exploração dessa causa à natureza e afinal de contas o troço tá aqui na frente da gente. De quem é a responsabilidade se der tudo errado?
Bom, aí o cara chega, propõe um peido na farofa desses e pede urgência em um assunto delicado para caramba. Um Presidente com juízo precisa vetar a coisa, porque não é assim que se decide um troço desses. Aí Ibsen está livre para berrar para o país inteiro que Lula TIROU o dinheiro do pré-sal dos estados mais pobres e deixou os royalties com o Rio de Janeiro que "já tem vista para o mar". José Serra tá quietinho.
Muito certa, a atitude de Lula. Foi visitar o Oriente Médio para ver como é que se lida com terrorista - porque se isso não é terrorismo político, eu não sei o que é.
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