sábado, 11 de julho de 2009

Coraline

Curiosidade é um mestre cruel, Coraline.

Nosso último filme foi Coraline e o Mundo Secreto.

Não se trata de um anime, mas de uma animação em stop motion - a técnica de tirar fotos de miniaturas e montar a animação a partir delas. No caso de Coraline o uso de imagens geradas por computador foi mínimo, deixando tudo por conta de uma excelente equipe de animadores.

Uma grande equipe para um trabalho enoooooorme.

Henry Salick, o diretor/roteirista deste filme, já estava de olho em Coraline antes mesmo do livro ser publicado. Mas vamos ao que interessa:

- Qual o propósito de passar essa animação em sala - perguntou o fantástico Adriano.

Henry Salick explica em um dos extras do DVD que não é bom buscar o realismo ao fazer uma animação. Sempre haverá algo que não convence muito bem. Este é justamente um dos atrativos dos mangás e animes. Não há ambição de chegar perto da realidade, mas de retratá-la da maneira mais idealizada possível.


Claro que não era necessário passar esta animação para vocês saberem disso. Meu ponto foi mostras a meus alunos uma das melhores transições de livro infantil para animação que eu já vi. Ela foi extremamente fiel e, ironicamente, extremamente livre também! Neil Gaiman adorou as modificações de Salick.

- Se o filme fosse fiel ao livro, teria menos de 45 minutos de duração. Wybie (personagem que não existe no livro) é adorável. Sem ele Coraline ficaria falando sozinha o filme todo.
Wybie (Wybourne - Why were you born? trad: Porque você nasceu?) procurando lesmas

Mais um ponto que eu queria mostrar é que nada em Coraline é original. Assim como Viagem De Chihiro, Coraline nada mais é do que Alice no País das Maravilhas. Lewis Carroll criou uma história tão sensacional que serviu de inspiração a várias outras. A idéia de Carroll foi tão original que pode ser visitada diversas vezes e cada versão trará algo de original em si. Assim como o enredo, a arte conceitual de Coraline foi baseada em vários ilustradores - nenhum deles teve seu trabalho plagiado no filme. Esta animação e este livro têm uma personalidade própria, muito forte - principalmente em seu personagem central: Coraline.


No livro, Coraline passa a maior parte do tempo calada, pensando com seus botões e seus leitores o quanto o mundo dos adultos não faz sentido nenhum. Na narrativa do livro temos acesso às sensações de Coraline. Na animação podemos apenas testemunhar suas aventuras. No momento de sua fuga, Caroline está na mais completa escuridão dentro do corredor. Ficamos cegos com ela, tantando entender o que são aquelas coisas passando rente a nossos pés e de quem são aquelas vozes em nosso ouvidos. Aqui fora ficamos embevecidos com a beleza do mundo criado por Salick.

A verdade é que as duas viagens são válidas.

A lição que espero que meus amorezinhos aprendam é que a originalidade não é tão importante quanto o exercício de produzir. Façam fanfics, cópias, interpretações de outros personagens... qualquer coisa serve. O importante é criar.

Segundo Neil Gaiman:
- Eu escrevi meu primeiro poema aos três anos - na verdade ditei, porque não sabia escrever. Eu ditei o poema à minha mãe e ela o escreveu para mim. Desde então passei muito tempo escrevendo muitas coisas que não soavam como eu. Fui escrevendo até que um dia - depois dos vinte anos de idade - me reconheci no que estava escrevendo. Daí para frente continuei escrevendo e vivendo disso.

Produzam sempre, meus amores, e coloquem essas cabecinhas para funcionar. Alimentem suas mentes com muita leitura e muita arte - das mais variadas formas. Continuem se procurando em suas obras até a carinha bonitinha de vocês aparecer nelas. Eu estou de fora e vejo muito bem. Não há nada mais lindo no mundo do que essas caras bonitinhas.

beijos
Tia Patrícia.