domingo, 31 de maio de 2009

Esperando um Disco Voador...

...no ponto de ônibus.

Eu sempre fui uma esquisita!

Enquanto o pessoal lá de casa corria para ver a novela das seis, eu grudava na janela para ver a noite cair. O que acaba sendo uma expressão engraçada, por que ela não tropeça e cai! Ela vai descendo com muita elegância.

Cada pôr-do-sol é único. Às vezes dava para ver Vênus chegar perto da lua nova. Mesmo depois que eu soube que dá pra ver isso a qualquer hora na bandeira da Turquia, eu ainda corria para o quarto para ver o quanto Vênus se aproximava da Lua. Minha mãe dizia que a lua nova parecia um anel. Eu demorei a entender. É que a gente não vê o anel todo, né. Só a parte de cima rodeando o dedo, toda brilhante. Um anel... É isso mesmo!



Mas não é assim que a banda toca. Eu acabei me mudando para um bairro melhor do que o Lins. O próprio Lins mudou. Prédios altos e feios, gente mal-humorada e feia na rua, o condomínio com portão fechado já não era garantia de segurança. Não fui eu quem saiu, foi o Lins que me expulsou!

E lá fui eu para um daqueles apartamentos de uma vista só, todo virado para um canto só, e um canto não muito interessante. O pôr-do-sol passou para a hora do rush e eu não pude mais acompanhar a programação das estrelas. Até estudei Astrologia para matar a saudade, mas não é a mesma coisa.

Aí, eu mudei pra Copacabana! Chega! Vou pagar mais caro, vou morar em um apertamento, mas estou de saco cheio de ônibus! Se é para ficar imaginando a vista, eu prefiro pegar Metrô e morar mais perto do trabalho!! E lá em Copa a vista é linda.

Linda, mas lá na praia. Eu pago aluguel justamente para não morar na areia! Além do mais o pôr-do-sol continua sendo na hora do rush e a minha janela continua virada para a casa do vizinho. Não mudou muita coisa.

Só que eu não me arrependo porque Copa tem muitos encantos. Ah, se tem! Em que outro lugar eu saltaria do ônibus (não, eu não me livrei deles!) e veria todo mundo na rua olhando para o mar? Todo mundo! A orla toda, até o Leblon, estava lotada de gente admirando o horizonte! Finalmente! Todas aquelas pessoas me entendiam!

Só tinha a questão de ser oito horas da noite e o Sol já estava dormindo há muito tempo. Ué! Seria a farra do peixe-boi?! Circuito Rio de corrida de submarino?! Em Copa nada me surpreende.

- Fala, meu camaradinha! ‘Cês tão olhando o quê?
- O disco-voador.
- Ahnn...

Ok. Quase nada me surpreende.

- Bom... Então cadê o dito cujo?
- Tá marcado para passar às 8:02.
- Sei...

Eu achei que EU era a esquisita! Eu busquei na memória qualquer notícia de visita alienígena. É claro que deve ter passado na televisão, mas como eu vou pro trabalho cedinho (lá no Flamengo) e volto só de noitinha (depois de dar aulas para complementar o salário), eu nem ligo mais a televisão! Não dá tempo! Eu gosto de dormir. Quando não estou dormindo, quero falar com gente. Não quero ouvir uma caixa que não escuta ninguém. Aí eu acessei minhas informações obtidas no meio social esquisito que eu frequento. Já sei!

- É a nave da Madre Teresa?
- Hein?
- Não tem uma Nave que a Madre Tereza está pilotando e que vai limpar a Terra e um lance assim...?
- Não! Essa é de um inglês.
- Ele vem de disco-voador da Inglaterra?
- Não! Ele não vem, não. O disco-voador vem é de helicóptero.



Não era mais fácil colocar o helicóptero dentro do disco-voador? Será que o helicóptero iria rebocar o disco-voador? A curiosidade estava me matando... Mas já era quase oito e meia. Inglês costuma ser caxias com essa história de horário. Resolvi ligar para a Eddie Van Feu, que sabe tudo o que está acontecendo em todos os planos e em todos os canais.

- Não, sua BURRA! É um artista, Peter Coffin. Ele fez um disco-voador e está mostrando o troço pelo mundo. Foi VOCÊ quem fez Belas Artes. Isso é da sua área!
- Que da minha área o quê? Eu desenho em PAPEL. E a nave da Madre Teresa?! Quando é que essa vem?
- Não sei! Tomara que demore porque eu estou cheia de coisa pra fazer!! Isso aqui tá uma bagunça! Essas contas não se pagam sozinhas... Por quêêêêêêêêê?

Assim não dá! Eu tenho toda uma população admirando o céu aqui e a Eddie vem falar de assuntos mundanos. Que mística é essa?!



Oito e trinta e cinco... Ah, esse disco-voador não é inglês nem aqui nem na China. Eu vou pro meu apertamento!

Uma última olhada. O céu estava mesmo lindo. Limpinho. Todo estrelado. Uma noite perfeita para os alienígenas aparecerem. Minha vizinha disse que foi só eu virar as costas e ir para casa que o disco-voador passou.

- Ah, muito ruim! Lá longe. Pelo pouco que eu vi, parecia mais a nave da Xuxa!

Bleargh! Alienígenas ingleses! São uns bregas...


Mas eu vou sempre lembrar daquela noite sem discos-voadores. Um céu tão limpo e tão estrelado. Todo mundo na praia. Um vento de maio gostoso. Foi a melhor parte dessa encrenca que o inglês arrumou.

Na segunda-feira eu fui trabalhar, trabalhei e voltei. Pensei o quanto é difícil a gente parar no meio da rua para olhar o céu. E o céu estava lindo. Qualquer alienígena ia querer passear naquelas cores. Mas como é que eu ia ficar parada na rua sem ser assaltada? E lá fui eu para o ponto de ônibus.



O ponto de ônibus!!!!

Lá eu pude ficar parada, cheia de gente parada do meu lado. Todo mundo na expectativa. A única diferença é que eu olhava para o lado contrário de todo mundo. Os ônibus chatos, mal-humorados e assassinos vinham do leste. Eu olhava para o oeste, para o pôr-do-sol e para as nuvens vermelhas no céu absurdamente lindo do Flamengo e para o anel de prata que minha mãe me ensinou a ver na Lua.

E daí que eu estava olhando para o lado contrário? É um ponto de espera. O pessoal sempre espera o ônibus, não é? Daqui pra frente eu vou passar pelo menos alguns minutinhos parada no ponto de ônibus... esperando um disco-voador e olhando a noite cair enquanto ele não chega.