quarta-feira, 8 de abril de 2015

Minha Mãe É Uma Histérica!

Nossa casa nova chegou, mas até ela chegar minha mãe fez muito barulho!

Aconteceu muita coisa na minha vidinha pequena de gatinho desde a última postagem até agora. O mais importante é que eu e Patrícia estamos juntos. Foi muito difícil. Ela me apertava, chorava e apertava de novo e eu não gosto de aperto!

A Míriam e a Lelê. Eu arranhava elas toda hora. A Lelê brigava comigo, mas a Míriam não sentia nada. Minhas unhas ficavam perdidas naquele monte de pelo que ela tem!
Aí a gente foi pra casa da Tia Eddie onde eu morei com duas cachorras que não me obedeciam e ainda queriam roubar minha comida. Mas com cachorro tudo é muito simples. Caiu no chão, ele come. Tirou do chão, ele não come. Francamente! Se alguém derrubar uma banana de DINAMITE na frente de um cão é capaz de ele ir lá e COMER! Bom, a questão da comidinha ficou resolvida. Minha mãe conseguiu ficar com alguns dos móveis que ela tinha, nos apertamos no quartão da casa da Tia Eddie e ficou tudo bem. Só não dava para ficar lá pra sempre. Mas foi bom ficar lá.


Minha mãe faz a maior bagunça com a nossa mesinha, mas foi o lugar mais seguro que nós achamos para a minha comidinha.


Aí a Tia Jô não me queria de jeito nenhum! Ela reclamava do meu pelinho que caía, do meu espirro quando eu espirro - porque meu nome é Espirro porque eu espirro e foi assim que a Patrícia me conheceu. Minha outra mãe tinha outro nome para mim, mas ela sumiu!! Sumiu ela e o meu nome. Agora sou Espirro e pronto. E eu espirro!

Lá na Tia Eddie e Tio Renato eu tinha uma cama só pra mim. Agora eu tenho que dividir a cama com a minha mãe de novo! E ela sempre acha que tem que ficar com a maior parte da cama!


Mas Patrícia não tinha mais dinheirinho para ficar sozinha num lugar só nosso. Depois foi pior porque até o pouco dinheirinho que ela ganhava sumiu. Ela disse que o emprego dela subiu no telhado. Que eu saiba, é o gato de alguém que sobe no telhado e isso não é nada bom! Será que ela não percebe a sorte que teve de ser o emprego dela a subir no telhado e não euzinho? Justamente numa época em que a gente estava sem telhado, né?

Eu pisava no pratinho da Míriam para mostrar quem é que mandava! Ela simplesmente não entendia e continuava arfando na minha cara.


Aí a Tia Jô mudou de ideia. Porque é assim que as coisas são! As coisas mudam, as pessoas mudam de ideia, meu pelinho muda - tudo muda! Aí mudou e nós mudamos para cá. Aqui é bom, tem varanda, tem redinha na varanda boa para me coçar. Tia Jô ainda reclama um pouco quando eu subo nas coisas, mas pede para a Patrícia não brigar comigo. Elas não deixam eu afiar minhas garrinhas no sofá de dia. De noite ninguém fala nada, só ronca - aí eu vou lá e afio.

Quando a gente veio para cá eu quase morri do coração no carro. Não gosto de andar de carro e eu fiquei muito tempo na minha bolsinha. Arranhei meu narizinho todo e fiz outras coisas das quais não me orgulho...

Outro dia a Patrícia estava falando que estava feliz. Ela estava dando aula para as alunas dela e me dando comidinha ao mesmo tempo. Ela colocou os alunos dentro de casa aqui comigo. Ela disse que antes só podia ficar com os alunos ou comigo - agora ela pode ficar com os dois. Daqui há pouco isso muda, mas ela não entende isso. Tudo o que acontece para ela é para sempre - até acontecer alguma coisa que vai ser pra sempre de novo.

Tia Jô gosta de mim e gosta de falar no telefone e gosta de ficar na varandinha. 
Bom, eu tenho que ter paciência agora. Afinal, agora ela é minha mãe. Estamos juntos e pronto. Isso, sim, eu acho que é pra sempre. Mesmo quando ela morrer e eu tiver que procurar outra mãe ela ainda vai ser minha mãe histérica. Eu amo ela.



sexta-feira, 4 de julho de 2014

Todo o Amor do Mundo

Em 11 de agosto de 2011 eu tomei para mim a responsabilidade de dar um lar a um gatinho de rua que estava morrendo.
Ah, mas gato de rua é safo, eles se viram!
Ele foi abandonado na vila da sua antiga casa depois que os moradores se mudaram. Isso é bastante comum. Um gato é esperto, sabe se virar.
Ele dormia na chuva, não tem a maior parte dos dentes, sofre até hoje de coriza, estava cheio de pulgas e os ossos eram visíveis por baixo dos pelos.
Mas ele foi esperto, sobreviveu, miou, pediu comida e se recusou a morrer.
A síndica da vila estava prometendo chamar a SUIPA (como se a SUIPA fosse buscar animais perdidos) e tentou várias vezes expulsá-lo da vila. Até a água da limpeza ela cortou para que ele não tivesse o que beber.
Mas chovia muito e ele se recusava a morrer.

Enquanto isso, eu em meu apartamento fechado, desarrumado, um verdadeiro caos, me recusava a viver. Me recusava a sair com amigos, receber visitas ou fazer alguma coisa que não fosse trabalho. De vez em quando eu tirava os olhos de mim e deixava comida para o gatinho abandonado na vila. Ele ficava tão feliz em me ver - subia no meu colo, espirrava um pouco, olhava para a porta como sempre... SEMPRE! Como se a antiga dona fosse aparecer a qualquer momento.

Depois de comer, se esfregar-se em mim ele sentava no meu colo sem miar, sem se mexer, sem desviar o olhar e sem demonstrar dor ou alegria. De uma forma estranha, Espirro estava em paz.

Não havia quem o chamasse de outra coisa - o bichinho espirrava a todo minuto.

Aí a responsável pela vila jogou tudo o que eu dei para o Espirro fora e ele ficou na chuva de novo.

Foi mais a revolta e a raiva que me fizeram tomar uma atitude. Contatei uma "gateira", procurei alguém que pudesse ficar com ele, mas tive pouca sorte. Ninguém quer um animal adulto e doente. Então, depois de muito relutar decidi eu mesma levar Espirro para o caos do meu apartamento.

Ele lutou tudo o que pode para não abandonar seu posto de esperança. Ele saiu do banho anti-pulgas cheio de espuma, lambeu tudo, só não passou mal porque Deus não quis e aninhou-se na minha poltrona. Parecia muito revoltado. Com o passar dos dias ele ficava sozinho no apartamento enquanto eu ia trabalhar. Eu ficava com pena, mas era melhor do que definhar na chuva.

Depois de meses de comida pastosa especialmente vitaminada, cobertas quentinhas, uma poltrona para usar como afiador de garras, Espirro parecia estar em casa. Grudado em mim a cada minuto eu me tranquilizei. Ele estava feliz.

Anos depois, com a Copa do Mundo, os aluguéis dispararam - até mesmo o de apartamentos mínimos e dominados pelo caos. Eu tentei tudo, mas como Espirro anos atrás, eu perdi o teto.

E ele?

Eu tenho amigos que são verdadeiros anjos quando se trata de animais. Mesmo já tendo dois cachorros eles aceitaram trabalhar em uma adaptação do Espirro em sua casa.

E a coriza? E o trabalho? E o desgaste? E os gastos?

Eles nem discutiram isso. Estão esperando com otimismo a chegada do gatinho.

Mas eu tenho esses anjos como amigos, mas são praticamente os únicos. Eu vou sair do caos do apartamento para o caos de passar alguns dias da semana na casa de um parente e outros dias na casa de outro. Todos me tranquilizam que essa situação vai mudar, vai melhorar, que é só uma etapa. Me ofereceram ajuda. E o melhor de tudo - Espirro vai estar bem cuidado.

Então está tudo certo.

Mas todo o amor que eu não tive como fazer chegar a meus parentes eu derramei no Espirro. Toda a frustração de amores que nunca deram certo eu transformei em amor pelo Espirro. A dor de saber que a idade chegou e que não posso mais ter filhos foi amenizada e abafada em cada carinho no Espirro. Todo o medo que eu também tenho da chuva se transformou em calma perto do Espirro. O caos perdeu o peso e importância no bem-estar do Espirro.Meu mundo era nada e eu não percebi que colocando algo ali, tão perto, meu mundo iria ter uma forma e vida.

Ele vai ser muito bem cuidado e eu vou visitar com frequência. A promessa que me foi feita é que assim que eu tiver um outro teto - esse vai ser dividido com um parente para ser um pouco mais sólido - Espirro vai voltar para mim. Com todas as reservas que minha irmã possa ter ela me prometeu que ele voltará.

Então está tudo certo.

Ele vai para um bom lar, vai se adaptar e eu passarei meses mais distante dele que os novos tutores. E todo o amor que eu juntei naquela criaturinha vai fazer parte de um novo lar - um bom lar. Um lar seguro e alegre.

Eu não abandonei Espirro na chuva - eu cuidei de seu bem estar.

E agora somos só nós: o caos e eu...

... e uma  dor sem tamanho, sem fim, sem misericórdia.

No meio das comemorações de Copa do Mundo eu me desfaço do meu lar, do meu caos e de todo o amor que eu consegui dar.

Dentro de mim chove e faz frio. Eu tenho fome, estou doente e com o sangue fino. Nestes próximos meses vou olhar para o portão onde Espirro vai passar e manterei meus olhos ali, com esperança, sem dar ouvidos a todos que dizem que meu tempo com Espirro chegou a um fim. Eu entendo agora o olhar dele para o portão.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Evelyn, Evelyn e mais Evelyn

Não basta ser sortuda o bastante para ser casada com meu amado Neil Gaiman, Amanda Palmer ainda tem um amigão como Jason Webley para fazer o papel de sua "gêmea siamesa" no conjunto Evelyn Evelyn. Eles são muito figura. Essa música Have You Seen My Sister Evelyn é mais figura ainda. Mas a figurinha mais carimbada de todos é Hoku Uchiyama, que fez essa animação. Demais!!!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Entre as Quatro Paredes da Sala de Aula

Eu tive a oportunidade de estar com um dos grandes sociólogos do país quando estive numa reunião do partido PSOL. Não quero mencionar o nome do sociólogo e talvez não seja correto chamá-lo de sociólogo. De qualquer maneira, como educadora, perguntei a ele suas impressões sinceras sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente - já deixando claro que eu, pessoalmente acho que o Estatuto, do jeito que está, é um tiro no pé desse país. Ele riu e disse que eu não sou a única, mas que era a favor do Estatuto. Ele, com pouco tempo para conversar, sugeriu que eu visse o filme "Entre os Muros da Escola" - título original "Entre Les Murs", ou "The Class", título em Inglês, muito mais fácil de achar (cof!... baixar...cof! cof!).

Isso já me aconteceu na classe dominical quando era adolescente. Eu tinha uma situação em que meus pais estavam totalmente errados - SIM, ISSO ACONTECE!- e o professor, ao invés de dar um conselho qualquer, me mandou ler um livro. O raio do livro era chato pra burro, mas muuuuito chato e tinha mais perguntas do que respostas. Para uma adolescente confusa e revoltada, isso não ajudava muito. Pois lá estava eu com uma revolta adolescente contra meus alunos e todo o sistema que coloca a faca e o queijo na mão deles, e o cara me manda ver um filme francês! Primeiro, o troço é difícil de achar. Depois o troço é chato de ver. Em terceiro lugar, quando eu descobrisse que essa dica não adiantou PICAS o infeliz já estaria longe de mim e não teria que explicar nada!

Senhor Martin, tirando leite de pedra.

Bom, eu não estaria fazendo um post se o filme fosse realmente uma total perda de tempo. O livro em que o filme se baseou, assim como a peça, foi escrito pelo ator principal, François Bégaudeau. A atuação do cara só não é mais fantástica do que a dos alunos, que se mostram demônios que eu não hesitaria em matar em nem um minuto. Vale a pena, mas é preciso ver preparado. O filme começa muuuuito devagar e não parece dizer a que veio. De qualquer jeito, vai aí o link:
http://atercapartedocinema.blogspot.com/2011/08/download-entre-os-muros-da-escola-2007.html

Mais problemas que soluções e mais perguntas que respostas. É um filme, não um tutorial.

É preciso ver preparado, assim como é preciso ir preparado para uma conversa com um sociólogo ou para uma reunião de partido político. A primeira coisa que é preciso saber é que ninguém está a fim de resolver assunto nenhum coisa nenhuma. Se o assunto for resolvido essa gente tem medo de perder o raio do emprego. Da mesma maneira que o personagem Diogo Fraga, de Tropa de Elite 2, fala da inutilidade de se mandar pessoas para a cadeia na tentativa de trazer alguma ordem ao país, os sociólogos e pedagogos continuam atestando que punição não leva a lugar nenhum. Eu sou uma prova disso - eu SEI que os alunos que sofreram punições não melhoraram em NADA. Mas eu também sou testemunha de que NÃO PUNIR ADIANTOU MUITO MENOS.



Foto de turma comportada. Só no passado.

Tive um encontro com alguns de meus antigos alunos, todos muito adorados, muito carinhosos, que me mostrou mais ou menos a inutilidade de dar nó em um pingo d'água. Um dos mais indisciplinados e brilhantes alunos que eu já tive estava lá - eu cito o nome dele se ele quiser, mas eu duvido que ele vai querer - e eu não o reconheci. Precisei ser convencida de que o esquálido adolescente que eu tanto belisquei quanto abracei e beijei se tornou um esquálido homem barbudo com uma namorada lindíssima. A primeira coisa que ele me lembrou foi de quanto eu o traumatizei - isso foi dito em tom de brincadeira.

Outro que foi um aluno difícil. Quer ser como ele? Invente a Teoria da Relatividade e aí eu penso no teu caso!

Mas o ditado italiano que diz que "é brincando que se diz a verdade" não poderia ser mais verdadeiro. Ele lembrou de um caso medonho de um aluno que enrolou a classe inteira e não desenhou nada. Ao cobrar um simples rabisco dele, o aluno me disse que estava deprimido porque seu coelhinho havia morrido no dia anterior. Eu teria perguntado o que "o coelho tinha a ver com as calças". Meu esquálido e adulto aluno continuou lembrando o quanto aquilo o traumatizou e o quanto eu fui cruel com uma pobre criança de treze anos. Mais tarde ele lembrou das muitas vezes em que esse aluno interrompeu a aula desesperadamente tentando parecer o mais idiota e inepto possível. Eu me lembrei muito bem que o rapaz se vangloriava de não conseguir desenhar um círculo com um copo e o quanto ele se revoltou comigo quando eu mostrei que ATÉ ELE conseguiria desenhar seguindo a técnica e arrastando o raio do lápis no papel. Bom, lá vai o exemplo que eu não queria dar:

- Senhores, aí estão os passos para desenhar a mão, não sem dificuldade - porque é uma parte da anatomia chata mesmo -, mas com alguma chance de sucesso. Comecem estudando os dedos e a diferença entre eles. Comecem por um cilindro, como está no quadro para vocês copiarem. Temos aí três estágios para um dedo convincente, com unha e tudo. Basta copiar.

Mala - Professora! Por qual mão eu começo?

- A que você se sentir mais confortável copiando. Se você for destro, não acho que vai conseguir copiar a mão direita enquanto desenha. Talvez seja melhor copiar o esquema aqui do quadro.

Mala - Tá... (cinco segundos) Professora! Por qual lado da mão eu começo?

- Qual lado...?

Mala - É! O de dentro ou o de fora?

- Sempre o de fora, onde existe pele. Não vire sua mão pelo avesso... Tudo bem eu entendi: você se refere à palma ou às costas de sua mão. Faz o seguinte: copia daqui, querido! Vai por mim, você não é do tipo que anda melhor sozinho. Copia, vai!

Mala - Tá... (oito segundos) Professora, por qual dedo eu começo?

- Classe, uma resposta para o coleguinha, por favor. (meio segundo) Obrigado! Se eu fizer esse gesto estou na rua.

Por que EU tenho que carregar isso?!

Como vocês podem ver, eu frequentemente coloco alunos em situações desconfortáveis. Vão chupar um prego os que querem jogar pedras em mim. Duas informações: não dou aula para monstros com menos de doze anos e não sou mais cruel do que eles mesmos são na hora do recreio. Se você dá um mole desses no meio dos seus coleguinhas sacanas, como todo pré-adolescente é, você vai ser sacaneado por uma semana! O que eu nunca abri mão de fazer é controlar a sacanagem em sala. Ela VAI ACONTECER. Mas o xerife da sala sou EU! Eu não posso evitá-la, mas posso controlá-la. Eu não posso evitar que adolescentes entre doze e dezessete anos tenham um comportamento deplorável, mas posso mostrar a eles que eles não têm bala na agulha para competir COMIGO. Não sou amiga, não sou a mamãe, não sou auxiliadora - sou a professora e mando na droga da sala!


Você vai deixar essa cara de santo te convencer?!


Só que estou em uma posição ao mesmo tempo privilegiada e desvantajosa: sou professora de cursos particulares, onde o aluno ESCOLHEU entrar. Ele QUER APRENDER a desenhar o mangá, o quadrinho, o super-herói dele. Não é por isso que eu vou tratar meu trabalho como se fosse creche, mesmo porque não é! Alguns de meus alunos são excelentes profissionais porque levaram a coisa a sério desde os doze anos. Eu levo o aluno a sério - o que não quer dizer que eu vá me sacrificar por ele. Infelizmente eu já disse isso para meus professores também: EU NÃO QUERO O AMOR DE NINGUÉM DA SALA DE AULA. Eu tenho minha família, meu cachorro, meus amigos para me amar. Estou na sala para ensinar ou aprender. E NÃO CABE AO ALUNO ESCOLHER O QUE DEVE APRENDER OU NÃO. Por quê? PORQUE ESSE ANIMAL AINDA NÃO APRENDEU PARA SABER SE O TROÇO É VÁLIDO OU NÃO - e eu não conheço adolescente nenhum que entenda que todo conhecimento agrega valor. Nenhum!

Sem comentários...

Minha posição é privilegiada porque eu posso jogar isso na cara dos fariseus: você está aqui porque quer aprender, seu cretino. Por que cargas d'água você está se esforçando tanto para não aprender? Na escola o professor não tem como dizer isso. Os pais obrigaram o imundo a estar ali para que ele tenha algum tipo de futuro. Por outro lado eu estou em desvantagem porque os cursos PRECISAM DO DINHEIRO do aluno. Bom, essa desvantagem os professores de colégios particulares também tem. Os professores de colégios públicos não têm essa desvantagem, mas quando se trata de desvantagem, ninguém aí vai querer concorrer com professor do ensino público, né? Tem dó!

ISSO é bullying. Se você é um Emo e alguém te chama de Emo, não é bullying! É a VIDA!

Eu aprendi e continuo fazendo o possível para aprender mais sobre técnicas para incitar a curiosidade no aluno. Nenhum conhecimento foi bem recebido sem que o terreno fosse preparado pela curiosidade. Quando o aluno não se interessa por nada, a culpa é do professor... VAI LAMBER SABÃO!!! Então ele está apático porque a aula está chata. Quer experimentar algo chato? Tente trabalhar num balcão por um salário mínimo porque seu currículo não preenche nem um post-it. Ele não está interessado porque sofre bullying. O pobrezinho não tem amigos. A culpa é da classe e do mundo. Tá legal! Vamos ver como o mundo vai tratar essa vítima se ele não se virar rapidinho. Woody Allen, Chris Rock, Tom Cruise, Noel Rosa, Toulouse Lautrec tiraram o talento justamente das adversidades. Uma coisa é ter marginais no colégio e ninguém fazer nada contra eles porque "não adianta punir, é preciso compreender". Outra coisa é glorificar o aluno que não faz esforço para aturar normas de sociedade que são um saco, mas que vão te perseguir a vida inteira.

Isso não é um exemplo a ser seguido. Ele nem é de verdade! Ninguém é amarelo-ocre!!!

Quer saber? Esse aluno já cresceu e está cheio de filhos. O Brasil está cheio de gente que exige seus direitos dizendo que paga seus impostos e cuida de seus filhos. Em primeiro lugar, você não paga os impostos - o governo TIRA O DINHEIRO do seu salário antes que você tenha a chance de saber o que é que está acontecendo. Ao comprar uma mercadoria, ninguém pergunta se você quer pagar a porcaria com ou sem impostos. Quanto a cuidar dos próprios filhos, apesar da maioria dos pais de alunos que eu conheço nem pensar em fazer uma coisa dessas, quem foi que TEVE OS FILHOS, seu prego?! O que é que você quer? Uma bala juquinha de recompensa? É isso que faz de você um cidadão decente? Pagar impostos e cuidar dos próprios filhos? Tenta não votar no Tiririca e jogar o lixo na lixeira para variar, palhaço!

Eu já cansei de falar com pedagogos, sociólogos e coordenadores. Meu papo é com os alunos.


  • Meus queridos, eu NÃO GOSTO de vocês. Eu tenho minha vida. Ocasionalmente alguns de vocês me fazem sentir que meu trabalho está sendo bem feito, mas eu não conto com vocês para me mostrar isso. Eu conto comigo mesma. Eu me aperfeiçoo o máximo que eu posso. Tá bom, alguns de nós ficam um pouco mais sentimentais e acabam reservando um lugar no coração para a classe. Mas fiquem sabendo que eu me dedico aos alunos que eu detesto da mesma maneira que me dedico aos amados - esse é o meu trabalho, não é minha vida pessoal.
  • Não há nada que seus coleguinhas vão fazer no colégio que seja pior do que o seu chefe vai fazer com você. Se você acha que ser chamado de gordo, mané, emo ou baranga dói, espere só até você crescer. Você vai continuar sendo chamado assim por motoristas de ônibus, pivetes e gente que não sabe nem ler, nem FALAR e ainda vai passar batido por isso porque está atrasado para o trabalho. Ser gordo, feio ou disfuncional é muito melhor do que ser um DESEMPREGADO!
  • Se você conseguir passar pela adolescência, você consegue passar por qualquer coisa! Quem diz que essa época é dourada esta MENTINDO NA SUA CARA! É uma época medonha em que você não faz a menor ideia do quanto você é lindo e quanto potencial você tem. Não adianta gritar isso na sua cara, você não vai acreditar.
  • Outros professores podem acreditar na sua inocência, mas titia Patrícia não nasceu ontem. Eu SEI que você torce tudo o que eu digo e diz para o seu pai que eu falei que você nunca vai ser nada na vida quando o que eu disse foi "Continue assim e você não vai ser nada na vida". Você contou a coisa do jeito que contou porque quer continuar assim. Pois é. Na minha sala NÃO.
  • EU SEI que você não está com sono porque minha aula está chata. EU TAMBÉM SEI a diferença entre o infeliz que jogou Playstation a noite toda e o dois de paus que está cheio de fumaça nas ideias. É só uma questão de tempo para eu chamar seus pais e pedir que eles não deixem você fumar maconha antes da aula, só depois. Eu posso falar isso em sala a qualquer momento, também. Por favor, fume seu baseado nojento e fedido DEPOIS da aula.
  • Não tente disputar quem é a bruaca mais bruaca. Estou enfrentando o seu tipo capa de revista, perfume demais, cabeleireiro toda semana desde a segunda série do primeiro grau. Isso significa dez anos de idade no vocabulário do século passado. Não tinha choradeira de bullying no meu tempo e eu aprendi a lidar com seu tipo debaixo de porrada e muita humilhação. Meu olhar de desprezo é melhor que o seu porque não há inveja nenhuma nele, nem pena, nem mesmo inveja da sua juventude. Todas as miss universo minha sala estão com cinco filhos e moram mal - porque casaram com um pobretão antes de fazer vinte anos e dois meses antes de dar a luz. Meu olhar de desprezo é legítimo, um pouco traumatizado, mas legítimo. Eu desprezo VOCÊ. Às bruacas do meu tempo eu agradeço. Graças a elas eu passei o recreio na biblioteca e não escrevo andar térrio e indentidade em meios de comunicação em massa. 
Sem querer estragar o filme para ninguém, eu estou de saco cheio da noção de que não há solução para uma geração perdida que só cobra e nem cogita dar nada em troca. Eu NÃO VOU cogitar mudar o SISTEMA TODO antes de exigir mais dos meus alunos. Eu não vou aceitar que a juventude do Brasil só vai melhorar quando TODOS OS OUTROS PROBLEMAS forem resolvidos. Eu quero vocês bonitinhos e respeitosos apesar do sistema que convida, pede, IMPLORA para que vocês se tornem inúteis sem espinha e sem cérebro - incapazes de tomar uma decisão racional e capazes de anular todas as vantagens de se ter uma sociedade democrática.

Procure saber como foi a juventude das pessoas mais bem sucedidas do mundo. A maioria delas perdoou o passado, engoliu o orgulho ferido e acreditou em si mesmo quando ninguém mais fez isso. Deixe as muletas para quem realmente precisa delas. Essas pessoas podem vencer qualquer maratona contra as vítimas da sociedade, sabia? Justamente por precisar de muletas, elas descobrem como as desvantagens fortalecem o espírito.

Se o cara nasceu assim, o que é que se pode fazer?

Quanto aos meus alunos, não se pode ganhar todas. Raios, eu não ganho nem a metade. Saí cedo do encontro com meus alunos porque eles resolveram misturar uísque ruim com vinho seco e cerveja boa. Eles são maiores de idade, mas mesmo assim levaram o próprio uísque para um bar. Meu amado esquálido barbudo e traumatizado quase foi atropelado no caminho para casa e a namorada quase vai junto. Eu bem tive vontade de ligar para ele e exigir uma composição sobre os valores da moderação e a imbecilidade de tentar manter uma conversa em um bar com música ao vivo, mas deixei para lá. Agora danou-se tudo.

Bom... problema dele!

domingo, 24 de julho de 2011

Secretária Eletrônica da Escola

Recebi, adorei, bloguei!


MENSAGEM CRIATIVA DE UMA ESCOLA ...

Esta é a mensagem que os professores de uma escola da Califórnia decidiram gravar na secretária eletrônica.

A escola cobra responsabilidade dos alunos e dos pais perante as faltas e trabalhos de casa e, por isso, ela e os professores estão sendo processados por pais que querem que seus filhos sejam aprovados mesmo com muitas faltas e sem fazer os trabalhos escolares.
Eis a mensagem gravada:

- Olá! Para que possamos ajudá-lo, por favor, ouça todas as opções:

- Para mentir sobre o motivo das faltas do seu filho - tecle 1.

- Para dar uma desculpa por seu filho não ter feito o trabalho de casa - tecle 2.

- Para se queixar sobre o que nós fazemos - tecle 3.

- Para insultar os professores - tecle 4.

- Para saber por que não foi informado sobre o que consta no boletim do seu filho ou em diversos documentos que lhe enviamos - tecle 5.

- Se quiser que criemos o seu filho - tecle 6.

- Se quiser agarrar, esbofetear ou agredir alguém - tecle 7.

- Para pedir um professor novo pela terceira vez este ano - tecle 8.

- Para se queixar do transporte escolar - tecle 9.

- Para se queixar da alimentação fornecida pela escola - tecle 0.

- Mas se você já compreendeu que este é um mundo real e que seu filho deve ser responsabilizado pelo próprio comportamento, pelo seu trabalho na aula, pelas tarefas de casa, e que a culpa da falta de esforço do seu filho não é culpa do professor, desligue e tenha um bom dia!"

REPASSE PRA UM AMIGO PROFESSOR OU PROFESSORA DE SUA
LISTA, PODE SER QUE QUEIRA FAZER A MESMA COISA QUE ESTA ESCOLA FEZ.

domingo, 12 de junho de 2011

Bombeiros do Rio de Janeiro:Negociando com o Fogo

Esta postagem está muuuuuito atrasada. Muito mesmo.

Já faz mais de três meses que sonhei com o rapaz que foi meu par na minha valsa de debutantes.

Eu era uma adolescente esbelta, e alta, mas jurava pela minha mãe mortinha debaixo da cama que eu era feia, gorda e sem graça. Eu de-tes-ta-va ser alta, mas nos meus quinze anos eu mudei de ideia.

Como meus pais não tinham como pagar uma festa de quinze anos - e nem achavam justo gastar os tubos para dar festa para os outros comerem - eu acabei fazendo um quinze anos comunitário. O Club Municipal aqui do Rio oferece o Baile da Primavera. Mocinhas que fazem 15 primaveras podem curtir uma festa comunitária confeitada com cadetes do Corpo de Bombeiros fardadinhos de branco - embrulhados para presente. Foi justamente por ser a mais alta que me deram por par um sujeito de 1,97m de altura. Ele era o mais alto e, coincidentemente, o mais bonito. O sujeito falava baixo, era educado, elegante - o pacote completo. Perto dele eu era finalmente pequenininha e frágil como qualquer princesinha Disney.

Isso foi em 1984. Naquele tempo uma moça de 1,70m era alta. Hoje, depois dos quarenta, eu sou uma senhora gordinha de altura mediana. O mundo inteiro cresceu! Os jovens são imensos aos 18 anos. Meu par de valsa, não. Ele vai ser alto até o Apocalipse - 1,97m!!!

Pois lá estava ele no meu sonho. Muito ao contrário do que eu me lembro, Jean - nome francês e pose de príncipe, dá para acreditar? -, meu antigo par de valsa estava de cara fechada e uniforme escuro. Eu fiquei tentando adivinhar a patente dele quando, com voz grave e firme ele me avisa.

- Anda! Tá na hora de sair!

Apesar de ser cinco anos mais velho que eu, Jean parecia mais novo, porém com um ar grave que eu não consegui conectar à minha lembrança dele. Eu também não tinha a menor ideia para onde ele estava indo e por que eu deveria ir também.

O que eu bem me lembro é que em 1984 os cadetes sofreram com as perguntas imbecis das adolescentes penduradas no pescoço deles:

- O que vocês fazem no quartel o dia todo?
- O que precisa estudar para ser bombeiro?
- Vocês fazem vestibular?

O meu parecia ser o mais calmo de todos. Jean parecia estar tendo uma paciência infinita. Só anos mais tarde eu percebi que meu decote ficava um pouco frouxo e que a visão de quem era quase trinta centímetros mais alto que eu era bastante privilegiada.

Assim, para esticar a conversa, lá foi ele respondendo a todas as minhas besteiras. Com neurônios adolescentes, não deu para entender como é que um cara com medo de alturas foi escolher entrar para o Corpo de Bombeiros. Eu também não entendia para quê um bombeiro de 21 anos tinha que se meter no mato, fazer missão de sobrevivência, se equilibrar em cordinha sem aqueles equipamentos todos que a gente vê em filme.


Por coincidência, algumas semanas depois a televisão mostrou um programa com a situação do equipamento dos bombeiros. Era engraçado ter conhecido um membro da corporação e começar a receber informações relacionadas àquilo. Os caras trabalhavam com mangueira furada, escada magirus quebrada (Jean me corrigiu delicadamente quando eu chamei a geringonça de guindaste), carro defeituoso e o escambau. Fiquei sabendo por uma coleguinha, filha de um dos oficiais que apareceu naquele mesmo programa, que a situação ainda era pior do que a TV mostrou. O pai dela não poderia contar tudo para não desacreditar a instituição.

Como desacreditar os bombeiros? Policial se vira como pode com a bandidadem. Os hospitais públicos atendem na medida do possível. E os bombeiros? Vão negociar com o fogo? Com a gravidade?

Claro que eles poderiam simplesmente não atender os chamados. Não atender o telefone como aconteceu DEZENAS DE VEZES NAS DELEGACIAS. Cansei de chamar bombeiros quando os policiais não apareceram. Ninguém pensa em chamar ambulância ao ver um caso de atropelamento, queda acidental ou velhinha com pé torcido - é sempre "Chama os Bombeiros!"

Já faz mais de 25 anos que eu escuto que a situação dos bombeiros está insustentável. A minha juventude inteira eu vi motoristas de ônibus tratarem o passageiro como lixo por conta de insatisfações com seus empregadores. Todo mundo sabe do drama dos policiais. Os hospitais públicos só viram o milagre do desaparecimento da CPMF. De resto, nem milagre e nem boa vontade - a verdade é essa!


Todas as instituições reagiram com o natural jogo de cintura do brasileiro à sem-vergonhice governamental. Os bombeiros foram os únicos que se apavoraram quando o Governo usou o povo de refém. Não pode fazer greve porque as pessoas vão morrer! Não pode dizer que não atende porque pessoas vão morrer! Não pode reclamar do equipamento porque as pessoas vão se apavorar e vão morrer de susto!

Chega! Eles perderam a paciência e invadiram um QUARTEL. Eles não descontaram a raiva no usuário, no Zé Povinho que não pode fazer nada por eles.

E são bons no que fazem, apesar do equipamento ruim. Na turma em que Jean se formou capitão, a 27ª CPO, em 25 anos, com todos os percalços, só dois companheiros morreram no cumprimento do dever. Um se chamava Corrêa, Neodair Pinheiro Corrêa, que morreu em 92 numa explosão de gás, segundo o site da Defesa Civil.

O outro foi Jean Louis Toftdahl. Ele morreu num incêndio em 1993.


Pelo que eu me lembro daquele baile de debutantes - lembrança borrada e amarelada por conta da embriaguez de tanto cavalheirismo e zero de álcool porque a champanhe estava intragável - dois companheiros é a mesma coisa que uma multidão, do que cinquenta companheiros. Eu fico imaginando o que é saber que mais de 400 foram presos e respondem por crime de motim. Meus príncipes fardados foram chamados de vândalos depois de passarem 25 anos sustentando o insustentável. Eu me lembro que a maior reclamação não era o salário, mas as péssimas condições de trabalho.

Então a população não quer saber se os métodos dos bombeiros para protestar foram questionáveis? Se eles têm direito à paralisação ou não? Sabe o que é, profissional que só faz o que pode... Estou falando com você, professor mal pago que desconta a frustração no aluno, motorista que coloca o passageiro em perigo, policial corrupto com razão ou não, GOVERNADOR ELEITO QUE ACHOU QUE O POVO IRIA MESMO CONTINUAR NO PAPEL DE REFÉM DESSA HISTÓRIA... Um bombeiro é um cara que socorre a gente apesar de tudo. Ele não fica reclamando - a gente está vendo a mangueira furada! E ele corre para emendar a mangueira. Ele leva choque salvando vítima soterrada em deslizamento de lixão. Ele corre para dentro de um incêndio... e, às vezes, ele não sai mais.


Eles fizeram milagres todos os dias. Agora VOCÊS, AUTORIDADES, VÃO CAGAR UMA ANISTIA DO NADA!!! VOCÊS VÃO SE VIRAR, MAS ESSES HOMENS NÃO VÃO RESPONDER À JUSTIÇA DEPOIS DE SEREM IGNORADOS TODOS ESSES ANOS.

Tem paciência!!! O povo pode ser cego para um monte de coisas, mas sabe de onde veio o socorro em todos esses anos de Lei do Gérson. Eles se viraram com o que tinham, fizeram mais do que podiam, tiveram paciência para ouvir as babaquices das autoridades e ainda tiveram mais paciência para as babaquices das debutantes. Caramba, eles até nos seguraram no salto alto, valsando e tudo, só para a gente fingir que era princesa.


Anda! Tá na hora de sair da cadeia e deixar de ser santo, deixar de ser príncipe e ser um profissional bem remunerado. Claro que não há dinheiro que pague ser herói, mas a gente sabe que isso eles não vão deixar de ser. Tá na raça. Tá na cara - mesmo aos vinte e poucos anos, quando o sujeito tem medo de alturas e escolhe fazer do ato de encarar o medo o próprio ofício. Herói não escolhe ser herói. Ele nasceu assim e vai morrer assim - bem velho, cheio de filhos e netos e cheio de histórias para contar.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Até um novo começo, um até breve.


A meus aluninhos da Barra que acessarem o blog da tia Patrícia é preciso avisar: uma nova era está começando e eu sou de um tempo passado. Não posso mais fazer parte do time do qual participei por mais de dez anos. Minha aula deste próximo sábado, dia 19 de março, não será dada por mim. Por motivos alheios à minha vontade, não estarei lá para me despedir - se estiver, será por outros motivos alheios à minha vontade.

No momento, tudo o que posso fazer é pedir que tenham paciência com seu novo professor, que vai descer de para-quedas num cenário que já estava montado.

Meu Eduardo, explique que você precisa trabalhar contraste no seu desenho e o próprio traço também. Explique que você tem seu próprio tempo e tolerância para a intensidade dos exercícios.

Meu Adriano, explique que este momento que você passa na Oficina é precioso para você e que cada final é doloroso. Explique que há coisas mais importantes do que resultados lucrativos - existem ideias nobres que levarão a resultados nobres.
Eu e Marcello levando nossas bagagens.
Sim, Marcello também está dizendo "adeus".


Minha Jackie, explique que você fala pouco mas entende muito, que sua adaptação às luzes e sombras está só começando, mas que você precisa de pouca orientação e muito desafio.

Meu Igor, conto com seu pai para perceber esta postagem. Você, meu precioso, é brilhante em cada desafio que recebe - mas ainda teme sair da zona de conforto. Colocar um pezinho aqui e outro no desconforto, na dose certa, vai tirar todos os seus vícios e te proporcionar o aprendizado que você merece.
Por mais que a água esteja boa, é preciso saber quando a maré não está mais para peixe...

Minha Lívia, com o pouco tempo que tivemos juntas, te digo que a prática é sua maior amiga e o maior inimigo é o orgulho - este que faz você pensar que não é boa o bastante quando o curso apenas começou. Peque o máximo de figura humana que puder e não desanime com seus erros. Principalmente, observe mais do que desenha. Preste muita atenção no que você está copiando e nada de pressa.

Minha Ana, você tem uma facilidade inicial grande, o que sempre vai indicar uma dificuldade posterior. Ainda não vi onde está seu desafio, mas aproveite bem esta fase para praticar e praticar. Quando os erros começarem a aparecer, aí sim, seu aprendizado estará esquentando - não desista jamais, você é muito talentosa.

Minha Maria, temos uma timidez e um apreço por dogmas extremamente forte. Abra seu coração para os erros mais medonhos e MOSTRE AO PROFESSOR. Eles serão, em parte, responsabilidade dele. Você tem um tempo limitado para terminar o curso, não sonegue nada de seu novo professor.
Meu J.P., Mangá é um estilo adorável, mas ele sempre vai passar por um traço delicado e controlado. Isso é o mais difícil em desenho. Até conseguir isso, pratique muito, mas nunca perca de vista o controle sobre o desenho.

Lembrem-se todos: um desenho precisa ser terminado em seu estagio inicial, depois começado e trabalhado no seu estado intermediário, depois de muito observado como um todo (até mesmo visto do verso contra a luz) e só depois ser terminado. Eu sei que a tentação de acabar logo aquela parte inicial é grande, mas nós vamos ser os melhores, não vamos? Então vamos nos disciplinar.

Não acredito que os caminhos agradáveis que seguimos juntos não vão voltar a se encontrar. Até lá, meu blog de dicas de desenho continua online, assim como o meu amor por vocês.

É com uma ligeira dor no coração, uma saudade precoce e um pouquinho de desespero de desempregada que digo a vocês:

"Não sei para onde eu vou, mas não pude ficar aqui. Quando chegar onde eu chegar, aviso de lá. Beijos em vocês, pessoas!"

Xáu!